Terceiro e último livro da trilogia As Crônicas do Trono de Pedra Bruta. Temos aqui o desfecho das tramas de Valyn, Adare e Kaden, e da guerra que ganhou contornos e consequências tão imensas. Precisei ler em inglês pois ainda não saiu em português. Você pode ver o review do primeiro livro aqui, e do segundo aqui.
O segundo livro foi muito bem em preparar o terreno para a conclusão. Personagens que antes eram frágeis ganharam importância, tramas simplistas foram melhor trabalhadas e toda a história ficou maior e mais completa. Se Brian Staveley conseguisse fechar as pontas soltas e manter o nível da narrativa, a conclusão teria tudo para ser memorável.
Infelizmente não foi o caso. Personagens tomavam decisões absurdas só para manter o enredo em movimento, vilões outrora pintados como invencíveis viraram vítimas de terríveis pontos cegos em seus planos e o ritmo do livro deixa muito a desejar.
Vendo outras resenhas sobre essa obra, percebi que a maioria esmagadora dos leitores achou a conclusão satisfatória, e isso é algo que me espanta. Isso me fez duvidar e questionar minha própria opinião:
Os personagens foram evoluindo bem até esse livro e de repente regrediram. As decisões tomadas por eles não faziam muito sentido.
Adare foi de uma posição conflituosa e complexa para uma de “Autointitulada Salvadora da Pátria”. Com grande coragem, deixa seu filho aos cuidados de Nira e vai tentar negociar com o governo republicano fundado por Kaden. Sua primeira decisão, de entrar sozinha na cidade, quase termina em sua própria morte. Sua segunda decisão, de colocar fogo no mapa dos republicanos, quase termina em um incêndio. Sua terceira decisão, de não confiar em seu próprio irmão, Kaden, desanda as negociações entre seu governo imperial e o republicano. Por último ela decide libertar Triste, só por saber que Il Tornja tinha algum interesse na prisioneira. Desnecessário dizer que Il Tornja, como bom vilão, rapta o filho da nobre imperatriz.
Em uma só tacada, Adare estraga todos os planos e se afunda em uma série de problemas que ela mesma criou. Apesar disso, ela tem a profunda certeza que é a única que consegue salvar as pessoas do império. Nira é a voz de razão que faz a personagem de Adare ter alguma chance de sucesso.
Valyn termina o livro anterior tendo os olhos varados por Il Tornja, caindo de um torre alta e sendo esfaqueado por Adare, sua própria irmã. É óbvio que sobrevive. É óbvio que, apesar de passar um ano roubando comida de uma criança (literalmente) por ser incapaz de caçar, ele permanece o melhor guerreiro de toda a série. Regra número um de livros de fantasia: se seu personagem ficou cego, ele ficou mais poderoso, não mais fraco. Mas verdade seja dita, as cenas de luta dele são muito bem escritas.
<figcaption id="caption-attachment-168" class="wp-caption-text">Van Damme fez primeiro!</figcaption></figure>
Quando tudo parece perdido e os soldados de elite decidem fazer um “até o último homem” você imagina que vai ser épico. Brian gasta inclusive metade do capítulo contando detalhes sobre cada soldado que está na batalha, contos de infância e trejeitos específicos numa clara tentativa de fazer você se importar por todos ali igualmente. Isso obviamente não funciona, porque os únicos personagens que você conhece fogem da luta e abandonam os outros a morte. Bom trabalho, Valyn!
Daria para fazer vista grossa a tudo isso se os dois vilões carregassem a trama em frente. Claro que isso não funciona.
Balendin é pintado como um ser com poderes sem limites. Todos os personagens, quando perguntados respondem no mesmo clima de “Ele é invencível” e fica óbvio que a única maneira de ter alguma chance de sucesso será quando estiver desprevenido. Infelizmente ele é imune a explosões, visto que foram realizados dois atentados dessa forma contra ele, e ambos terminaram com “Ele foi ferido, mas vai voltar”. Quando Gwenna envia cinco Kettral, a mais especializada e treinada força do império contra ele, ele elimina quatro sem o mínimo de esforço. Um deles pega fogo no ar. Balendin é o super herói que seu irmão menor inventou para enfrentar o Super Homem.
O que ele não contava é que a atenção de todas as pessoas se voltasse para outra coisa. Sendo um feiticeiro dependente de emoção humana, ele fica vulnerável, recebe uma flechada no olho e morre.
Decepção maior do que Balendin, somente Il Tornja, um ser com milhares de anos e profundo conhecimento de guerras, que passa 90% dos três livros dez passos adiante de todos os demais personagens. Nenhum plano escapa de sua mente brilhante e nenhum detalhe passa despercebido em seus estratagemas. Ele consegue dar um golpe militar num império a distância, enquanto sequestra o filho da imperatriz e faz lavagem cerebral num feiticeiro louco. Tudo isso enquanto trava uma guerra contra literalmente um deus e, apesar de ter uma inferioridade numérica de vinte para um, mantém o combate equilibrado. Ah, e no combate individual ele vence Valyn. Il Tornja é o super herói que seu primo inventou para enfrentar Balendin.
Il Tornja não contava que Adare iria ignorar que ele estava com seu filho. Também não contava que ela o esfaquearia.
Nem tudo é tão ruim
Kaden negociando com Meshkent é uma cena muito boa. É o ponto alto de “Kaden Político”. Seu relacionamento com Triste é bacana também (considerando que você ignore os clichês). E a coragem de Brian em realmente matar os dois no final merece alguns aplausos.
Gwenna, que nem começou a trilogia como uma personagem principal, carrega o livro inteiro nos ombros. Recebe uma pequena ajuda de Kaden, mas ela é, de longe, a mais interessante. Se o livro tivesse sido contado só do ponto de vista dela, e de seus esforços por limpar as besteiras dos três irmãos, seria melhor.
<figcaption id="caption-attachment-169" class="wp-caption-text">Seriam Gwenna e Kaden a Hermione e o Neville? Melhor paralelo que eu achei</figcaption></figure>
Uma trilogia com tremendo potencial, com elementos novos e interessantes, com personagens complexos e com motivações claras tinha tudo para ser brilhante. Infelizmente tropeçou em sérios problemas de enredo e de trabalho de personagens.
Nota 0.5 de 5 para o terceiro livro.
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