Fechando a trilogia A Primeira Lei aqui no nosso Review de Segunda: O Duelo dos Reis de Joe Abercrombie, terceiro e último livro! Você pode ver aqui e aqui as resenhas dos livros anteriores.
Vemos finalmente o final da jornada dos heróis e das lutas desesperadas que embarcaram. Abercrombie continua com sua ótima narrativa e com personagens tão cativantes que parecem sair do papel, em especial Glokta e Logen que agora fulguram entre os meus favoritos do gênero fantasia.
O escritor deixa claro desde o começo que é uma conclusão, as pontas soltas vão se fechando desde o princípio, e isso é perfeito. Há nos últimos tempos uma necessidade de autores de fantasia em não fechar todas as tramas, porque dessa forma conseguem lançar uma nova trilogia. Abercrombie, por outro lado, lança novas histórias ambientadas no mesmo universo, inclusive com personagens já conhecidos aparecendo, mas nem por isso deixa de fechar sua história, mais uma vez mostrando porque é diferenciado.
Como é o terceiro livro da trilogia, essa resenha conterá inúmeros spoilers.
Com a falha de Glokta em manter Dagoska, o Império Gurkense, ansioso por acertar as contas com a União parte para a invasão do continente onde reside Adua, a capital. O inquisidor volta a cidade para ajudar a preparar a defesa e contar como conseguiu segurar Dagoska, dada como perdida, por tanto tempo.
Bayaz, Ferro, Logen e Jezal voltam de sua viagem infrutífera em busca da semente, e fica claro a dificuldade que possuem em se manter próximos passado o período de necessidade. Outro ponto genial de Abercrombie: não há como serem companheiros, nem depois de passarem por tantas provações juntos. Palmas para a coragem do autor em separar o que seria, em qualquer outro livro de fantasia, o “Grupo Principal”.
Cachorrão e West continuam a luta acirrada contra Bethod no norte, mas agora possuem um plano de como podem virar o jogo. A guerra está chegando em sua fase crítica.
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Jezal participa de uma verdadeira montanha russa de situações. Ele volta e tenta se acertar com Ardee, irmã de West, mas fica claro desde seu retorno que as coisas não vão ficar bem. Depois fica sabendo que é descendente do rei sendo portanto o sucessor do trono assim que o atual morre (o herdeiro natural, Ladisla, morreu no livro anterior).
Mesmo depois de se tornar rei, ele tenta manter-se com Ardee, mas ela o rejeita, e então vemos o Jezal Mimado ocupando as ações de Jezal Legal que estávamos começando a gostar em Antes da Forca.
Ferro fica em Adua, assim que volta da viagem com Bayaz e não consegue se enturmar com ninguém, dado que Jezal subiu de vida e Logen voltou para o norte. Sem muito o que fazer, ela auxilia Bayaz a encontrar a Semente e preparar seu plano de vingança.
Aliás, é importante notar que ela só aceita ajudar o mago pois ele sempre lhe promete o poder para ela matar gurkenses. É, a longo prazo, e dado seu passado sofrido, sua única motivação na vida.
Voltando para Adua e lutando para ajudar seu chefe, Sult a conseguir o controle da União, Glokta continua sendo o peão de maior importância no jogo político do lugar. Com muita perspicácia (e doses altas de tortura) ele consegue muitos dos objetivos, mas é sempre deixado para trás por Bayaz, que começa a aparecer, mais claramente, como um ser onipotente e onipresente nas tramas da capital.
Glokta se sai tão bem que, no final, quando Bayaz abre o jogo e o mostra que era o próprio mago quem tinha todas as cartas das guerras e política de Adua, ele deixa o aleijado inquisidor como seu representante não oficial.
Após passarmos dois livros gostando de Logen, nós agora entendemos porque ele precisa tanto da inalcançável redenção.
Ao voltar a ter contato com seus antigos conhecidos, fica óbvio que o passado ainda está vivo para todos ali. Loge Nove Dedos é um assassino, e sempre será enquanto estiver respirando, e com essa percepção, o próprio Logen entende que não tem como manter a fachada de melhora, logo regredindo para um personagem taciturno e assustador. Quando confrontado por seu melhor amigo, Cachorrão, o porquê dos enfrentamentos, ele deixa claro que também não gosta, mas que não há outra forma de lidar com seus conterrâneos.
Quando o Nove Sangrento assume o controle novamente, ele mata Tul Duru, a pessoa que melhor o recebeu em sua volta, e uma criança, filho de um dos líderes dos nortenhos. Mas também segura os invasores tempo suficiente para o exército de West desbaratar o de Bethod em um ataque pela retaguarda. Portanto, isso deixa claro que o Nove Sangrento é a maldição e benção de Logen. É quem o traz sua fama e força, mas é também quem mata os próximos e afasta os amigos.
O duelo no Círculo entre o Nove Sangrento e Fenris o Temível é uma verdadeira aula de entrega de promessa. Abercrombie passa os três livros mostrando quão incrível é Logen e o quão poderoso é Fenris, e, de um jeito justo, consegue colocar os dois campeões frente a frente. A cena da batalha é incrível, e quando o Nove Sangrento assume o controle (na única vez em toda a história que Logen aceita o assassino de bom grado), fica claro o quão perigoso é o guerreiro.
Nove Dedos lançou-se a frente como um bêbado, trôpego, louco, espada balançando em seu punho sangrento. Olhos mortos brilhavam, pupilas inchadas até virarem dois buracos negros. Sua louca risada cortou e percorreu todo o círculo. West sentiu seu corpo recuando, a boca seca. Toda a multidão deu um passo para trás e eles não conseguiam mais dizer quem os assustava mais: Fenris o Temível ou o Nove Sangrento.
Bayaz se mostrando não um velho sábio, mas um político cobiçante e faminto por poder foi legal de se ver. Quando ele grita “Eu sou maior que o próprio Euz!” fica claro que sua única motivação é o próprio poder.
A conversa entre Bayaz e Glokta, onde o mago deixa claro que era ele quem estava por trás de tudo, desde a nomeação do rei até a conclusão da guerra, deixa um gosto amargo na boca, o único ponto realmente negativo do livro. Afinal, se Bayaz é tão rico, poderoso e infalível, qual é o sentido da obra toda? Enfim, minha única reclamação (embora ela englobe muitas coisas).
Abercrombie tira alguns coelhos da cartola para entregar a conclusão da obra, e se esforça ao máximo para deixar todos os personagens infelizes e todos os leitores satisfeitos. Alguns percalços no fechamento, mas o conjunto da obra é ótimo.
A trilogia é incrível, mas esse livro fica um degrau atrás do anterior. Nota 3.5 de 5.
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