Poucos livros me foram tão recomendados quanto Os Sete, do André Vianco. Tenho lido muitos títulos brasileiros, e fantasia sempre foi uma categoria que me cativou muito, então era esperado que os vampiros d“O Mestre do Terror Brasileiro” acabassem virando a bola da vez. Não sei se foi a expectativa estar lá em cima, ou o fato de ter sido o primeiro livro do autor, mas ficou abaixo do que eu esperava.
A trama tem tudo para dar certo. Um grupo de jovens encontra, no litoral do Rio Grande do Sul, uma caravela, no fundo do oceano. Ao investigar o achado, os jovens encontram uma caixa de prata com sete nomes escritos: Acordador, Espelho, Gentil, Inverno, Lobo, Tempestade e Sétimo.
Com a ajuda de pesquisadores, os jovens abrem a caixa e descobrem sete corpos dentro. Porém, durante as análises, um dos corpos entra em contato com sangue humano, e eventos estranhos começam a ocorrer. O corpo, outrora apenas uma carcaça, começa a melhorar de condições. As feições ficam mais claras, os músculos começam a crescer.
E um frio inexplicável toma conta do laboratório.
Por fim, o corpo abre os olhos e volta a andar.
A trama chega nesse ponto aproximadamente aos 15% do livro, e, numa análise fria, está numa posição ótima(aliás, todas as informações aqui estão na sinopse). Os eventos antecipados já estão declarados, existe potencial para desbravar os personagens e, até o momento, o ritmo da leitura é bom.
Infelizmente, as coisas descarrilham um pouco até os 40% do livro, e dali para frente, tomam um rumo desconexo, abrindo mão do potencial inicial.
A impressão que tenho é que o autor queria desbravar mais os personagens, mas acabou não conseguindo, talvez pela tentativa de fazer tudo caber em um livro só.
Inverno é, de longe, o personagem com maior quantidade de ações/cenas, o que faz com que se torne uma das figuras mais conhecidas da obra, mas o custo disso é uma diminuição dos demais vampiros. Acordador começou seguindo o exemplo de Inverno, tendo um início mais bem trabalhado e detalhado, inclusive um conflito claro com o primeiro vampiro, mas logo os eventos aceleram e aquele que acorda os mortos acaba voltando a um papel de “seguidor da trama”.
Os outros vampiros são reféns completos da narrativa. Tempestade só aparece quando eles precisam de uma tempestade, Espelho usa seus poderes um total de duas vezes, ambas de forma desnecessária e Lobo vira um lobisomem e ataca transeuntes e soldados figurantes.
Gentil, por ser o contraponto, é melhor trabalhado, e a cena onde ele explica o passado dos vampiros ficou legal. O problema é que seu poder é, a grosso modo, “resolvedor do conflito central”, e isso acaba virando um Deus ex machina no final.
Os mocinhos também não se destacam, e por vezes a “armadura do protagonista” superou os níveis aceitáveis. Inverno mata centenas e centenas de soldados com o frio, mas quando enfrenta Tiago, um dos mocinhos, parece uma criança indefesa e “não consegue” usar o frio, sua arma mais poderosa. Lobo mata centenas e centenas de soldados, mas no embate 1 x 1 contra César, o protagonista também vence. A dualidade de “seres invencíveis e malvados” e “buchas de canhão para a vitória do herói” acaba ficando cansativa.
Algumas cenas são mais descritas, tentando causar pena ou empatia por um transeunte, mas como foram, via de regra, com personagens criados duas páginas atrás, não há impacto, e acaba ficando como uma tentativa forçada de criar investimento emocional.
Por outro lado, a expectativa criada sobre o último vampiro, Sétimo, ainda não desperto, é muito bacana e te deixa interessado. As cenas dos vampiros aprendendo como funciona o mundo hoje são engraçadas e conseguem criar um pouco de empatia.
Mas não muita.
André Vianco é um dos maiores nomes da literatura nacional contemporânea, na categoria “Horror” então, talvez seja O maior, mas esse livro ficou abaixo das expectativas.
Personagens rasos, a trama começa bem mas desanda e uma necessidade muita alta de suspensão de descrença para aceitar algumas resoluções
Nota 2 de 5.
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