Resenha: A Estrada – Cormac McCarthy

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A Estrada, de Cormac McCarthy, é um livro curto com prosa simples e uma ideia que pode ser resumida em uma única frase: Pai e filho migram em um mundo apocalíptico. Fim. É isso. Só isso mesmo.

Porém, tal qual “O Velho e o Mar”, do Hemingway (cuja ideia é “Um velho vai pescar”) é também sobre tanta coisa mais.

Devido a um desastre não especificado, o mundo pereceu. Não existem mais plantas, nem animais, nem sociedade tal qual a conhecemos. O mundo esfriou, e só existem duas formas de conseguir comida: as enlatadas, que precisam ser buscadas nos destroços e abrigos do passado, dependendo da sorte.

E o canibalismo.

É nesse mundo que um pai, tentando cuidar do filho, inicia uma jornada para o sul, pois ele sabe que não aguentariam mais um inverno tão ao norte. Ambos carregam na mochila os pertences indispensáveis e num carrinho de supermercado tudo que pode ser útil.

O clima de desesperança e morte é presente em todo momento, todas as frases e toda a volta dos personagens. Os lugares por onde passam não tem nome, assim como os próprios protagonistas: são apenas homem e filho.

Vemos o mundo pelos olhos do homem, e percebemos que, embora ele tente sempre manter-se firme pelo filho, já não tem nenhuma esperança. Ele sabe que não pode confiar em ninguém, e não acredita que existam outros grupos humanos, pelo menos não que possa confiar. Cada contato com outras pessoas é recheado de perigo, suspense e medo. Muito medo.

Tem cenas muito pesadas. Estamos falando em um mundo sem regras, com canibalismo sendo uma realidade, então coisas hediondas ocorrem no dia a dia. O autor joga situações terríveis para os protagonistas enfrentarem, onde não existem soluções certas.

Tudo é cinza e infeliz

<figcaption id="caption-attachment-738" class="wp-caption-text">“Olha, um gif fofinho para a resenha ficar mais leve!”</figcaption></figure>

Não é uma obra sobre heróis e combates. O homem sabe que sua única prioridade é manter seu filho vivo. E, num mundo em tal estado, sem comida, sem remédios, qualquer ferimento pode ser o fim da jornada.

É nesse cenário, onde nosso protagonista não tem nenhuma esperança, não vê nenhuma saída, que ele precisa manter viva no filho a chama da humanidade. Ele sabe que não há caminho ou final feliz, mas precisa manter a esperança no filho, fazendo-o crer que eles são “os caras do bem”.

E, mesmo quando ele precisa tomar decisões difíceis, mesmo que tais decisões os ponham em risco, ele precisa levar em conta o que o filho vai pensar. Qualquer caminho tortuoso demais fará a criança perguntar “Nós ainda somos os caras do bem?”

E é bom ele saber o que responder.

Uma obra-prima. 5 de 5.

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