Isaac Asimov é um dos grandes gênios da literatura mundial, tanto pela qualidade da escrita quanto pelos temas abordados. Uma verdadeira mente a frente do seu tempo.
Mas vamos focar no livro, Os Próprios Deuses. Após receber muitas críticas por não falar sobre outras formas de vida, alienígenas, em seus livros, Asimov estreou no tema falando, do ponto de vista científico, os pontos positivos e negativos de se ter contato com um universo paralelo ao nosso. Baseado na premissa de que um universo paralelo teria diferentes regras físicas do nosso, como os seres humanos (e os do outro lado) poderiam se beneficiar dessa comunicação? Asimov tem uma sacada interessante, explicando que um material atravessando entre um universo e o outro, ao chegar no destino, passaria por um tempo de adaptação às novas regras físicas. Essa diferença e período de adequação geram energia, que em uma sociedade suficientemente avançada, poderia ser coletada. Essa é a premissa que serve como base para a historia.
O título do livro vem de uma frase muito famosa de Friedrich Von Schiller: “Contra a ignorância os próprios deuses lutam em vão”. Frase que também dá o título de cada uma das três partes do livro.
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O ínicio do livro é desenvolvido a partir da “descoberta” da comunicação entre os dois universos, gerando um artefato conhecido com “Bomba de Elétrons” (“bomba” de bombear, não de explodir). O pai dessa descoberta é um cientista chamado Hallan que, por sua descoberta, é aclamado como o grande herói da humanidade ao resolver o problema de geração de energia. Agora haverá energia sem custo para todos.
Lamont, um jovem cientista, através de pesquisa e observação começa a entender os problemas e perigos que a Bomba de Elétrons pode causar. Sem entrar muito nas condições específicas, a ideia básica é que ao transportar o objeto entre os dois universos, as condições físicas dos dois universos começam a tentar se equalizar. Como há diferença na atração de elétrons, isso significa que as reações atômicas dos dois universos começarão a se modificar. No nosso universo elas ficarão mais agressivas, e no paralelo ficarão mais brandas.
Entre outras palavras, o nosso sol vai explodir exponencialmente mais rápido e o sol do mundo paralelo com o qual estamos nos comunicando vai se apagar exponencialmente mais rápido.
Mesmo com todas as provas de seu lado, Lamont é rechaçado, pois não há espaço para críticas a invenção que mudou o mundo, nem a seu criador. “Contra a ignorância” não há provas que derrubem uma convicção errada.
Aqui toda a narrativa vai para o universo paralelo. Asimov cria uma sociedade completamente diferente da nossa, onde ao invés de dois gêneros (masculino e feminino), existem três (Emocionais, Paternal e Racional) e dois tipos (Suaves e Durões). Essa parte do livro é bem voltada no desenvolvimento e relacionamento entre um “casal” desse universo e mais pistas sobre os problemas que a Bomba de Elétrons pode causar. Interessante ver que essa parte se chama “Os próprios deuses”.
Denison, um dos antigos desafetos de Hallan, decide ir para a lua (agora colonizada e habitável) e lá entende que não há como enfrentar os desígnios e a ignorância que vão em torno da Bomba de Elétrons de frente. Vendo que não há como lutar diretamente, ele desenvolve uma maneira de se comunicar com um outro universo, do outro lado do espectro do universo paralelo anterior. Isso significa que as mudanças causadas pela comunicação que gera energia serão anuladas (ou suficientemente abrandadas) pela comunicação com um outro universo onde as regras físicas são diametralmente opostas.
Asimov puxa muito a parte “científica” da parte da “ficção”. Isso por sua vez faz com que seja necessário explicar com muitos detalhes os problemas de maneira presa a física e lógica real, causando algum cansaço. Talvez seja só eu, que estou mais acostumado a livros de fantasia, mas não vejo que tudo precisa ser totalmente baseado em ciência “real” para o seu ponto fazer sentido.
A loucura da segunda parte do livro é muito bem vinda e é bacana cair de cabeça em um mundo que você não entende as regras direito.
A terceira parte é cansativa e deixa a desejar depois de toda a viagem que acabamos de passar. Tem também uma tentativa de um pequeno romance, mas fica bem em segundo plano.
Dar menos do que 4 para Asimov é pecado, mas minha nota é 2.5 de 5, devido principalmente ao último terço do livro, que fica muito arrastado e com muitas partes dispensáveis.
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