Mad Max e a Arte de Expor Mundos

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Uma das grandes dificuldades ao escrever um obra fantástica é a Criação de Mundo ou Worldbuilding, e os motivos para isso são vários.

Ao criar regras diferentes do mundo em que o leitor vive, isso gera um distanciamento e uma necessidade de explicar as coisas. Em um mundo onde existem outras raças inteligentes além dos humanos, como se dá a convivência? De onde estes seres vieram?

A coisa fica mais difícil ainda quando lidamos com magias. Como explicar que uma criatura pode mudar as leis da física? Quais os limites? Como ele interage com os demais?

É muito comum o autor usar alguns artifícios para explicar as coisas no começo da obra. No mundo de “O Protegido” de Peter V. Brett, ele usa um contador de histórias para expor o sofrimento das pessoas nas garras dos demônios. Em “O Conto da Aia”, Margaret Atwood usa as lembranças de sua personagem no seu período de “treinamento” para mostrar o controle que a sociedade impõe às mulheres. Harry Potter então, é sobre um bruxo aprendendo as regras da magia em uma escola.

<figcaption id="caption-attachment-767" class="wp-caption-text">Ou você achava que as cenas de aula eram só para enrolar?</figcaption></figure>

Tais artifícios são importantes e muito usados, mas sempre podemos tentar aplicar a técnica do “Mostre, não conte” para esse efeito. Podemos ver um excelente exemplo disso no filme “Mad Max: Estrada da Fúria”.

A Arte em Mad Max

(eu sei, em filmes é “mais fácil” usar o Mostre, não conte, mas ainda é um ótimo exemplo, mesmo nessa mídia!)

O inicio do filme é forte. Vemos um tirano, Immortan Joe, se erguendo e discursando para uma população sofrida em um mundo árido. Areia por todo lado, as pessoas sujas e fracas. Por que todas estão ali? Elas devem estar preocupadas demais com sua sobrevivência para dar atenção a seu ditador.

Então, Immortan Joe abre as comportas e deixa água fluir para elas, e entendemos que, assim como no nosso mundo, a forma de dominação neste é através do controle dos recursos naturais escassos, nesse caso a água.

Repare como não houve nenhum narrador ou personagem explicando em voz alta. As cenas vão carregando a narrativa e a tensão até explicar o motivo do agrupamento de pessoas, e o porquê delas aceitarem tal tirano como líder.

O filme inteiro tem essa estrutura. É uma verdadeira aula de Worldbuilding.

Outro exemplo incrível. Durante o combate na estrada, vemos um dos warboys (os guerreiros de Immortan Joe) ser varado por uma flecha. Ele se ergue com dificuldade, solicita que os demais warboys o “testemunhem” e pinta sua boca de cromado.

<figcaption id="caption-attachment-771" class="wp-caption-text">Que cena!</figcaption></figure>

Então se suicida, enfrentando os inimigos. É uma cena incrível e muito bem escrita.

Quando Nux, um outro warboy, está perseguindo o caminhão, alvo de sua busca, ele vira para o próprio Max, preso a traseira de seu carro e solicita que ele o “testemunhe”, e logo depois pinta sua boca de cromado.

Não é preciso explicar que ele vai se matar em busca de seu objetivo. Isso é óbvio, e a reação de Max apenas corrobora com o que a audiência já sabe.

Quando falamos de livros, é óbvio que nem sempre conseguimos mostrar ao invés de contar, mas tente ser criativo e inovador. Entregar a narrativa mostrando e deixando o leitor vivenciar os eventos tem um efeito muito mais potente.

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