Terror na Floresta – Parte 3

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A pancada desestabilizou Ag, e ela caiu no chão gritando de dor. O braço da criatura era longo e peludo, e, após terminar o movimento de agressão, foi voltando para sua posição atrás das moitas sem pressa. Joe conseguiu ter um vislumbre do enorme corpo que se escondia entre as árvores, e, assustado demais até mesmo para correr, ficou parado observando uma criatura daquele tamanho se movimentar. Não havia barulho. A movimentação dele era lenta e deliberada e aquilo não gerava nenhuma agitação na mata em volta.

Sua calça foi agarrada e ele se assutou, até ver que era Ag com um olhar de desespero para ele. Era óbvio que ela precisava de ajuda, e era mais óbvio ainda que ele não poderia ficar parado esperando aquela coisa se agitar de novo. Olhou para a companheira a seus pés e analisou as opções, em menos de um segundo.

Ele poderia virar, correr e deixar ela ali e isso lhe daria mais tempo, mas novamente havia o problema de explicar isso para Grond. Pegou a mão de Ag e se virou na direção da fogueira que o grandalhão ainda não conseguira acender. O homem estava ao lado do monte de lenha, hipnotizado pelas movimentações a sua frente, sua expressão um misto de medo e surpresa, provavelmente na mesma situação que Joe estava antes de ser chamado por Ag. Joe estava correndo, na medida do possivel, e servindo de apoio a companheira, indo em direção a Grond.

– Acende a fogueira! – a voz dela veio forte com o desespero e zuniu em seu ouvido.

Eles cambaleavam metro a metro, e Joe começou a se perguntar se ela não conseguia se virar sozinha, visto que o ferimento era no braço esquerdo e não na perna. Grond pareceu não ter escutado nada e permanecia naquela posição estupefata.

– A fogueira! Acende a fogueira! – o desespero dela pareceu aumentar, e Joe também sentiu o medo crescendo.

Sem diminuir o passo, ele olhou de relance para trás, e viu a enorme forma peluda seguindo na direção deles, alcançando a cada movimento. O coração foi parar na boca, e ele novamente se viu pensando em deixar Ag no chão e correr. Então veio o som. Aquele mesmo choro, profundo e longo, agora logo atrás deles, mas mais para trás do que Joe imaginava. Cambalearam mais alguns passos e ele tornou a olhar de relance. Aquela coisa já tinha recuado até a borda da clareira, se embrenhando na mata.

– Que merda é aquela? – Grond ainda estava parado.

– Seu idiota – Ag tinha a voz cansada e dolorida agora – quanto tempo precisa para acender uma fogueira?

– Que diferença faz? – Grond se defendeu, ainda olhando na direção das árvores – Olha o tamanho daquilo. Fogo não vai parar…

– Fogo assusta. Fogo evita. Idiota. Vamos acender isso logo, é o que podemos fazer.

– Por que ele recuou? – Joe perguntou, interrompendo a conversa dos dois. Era uma pergunta sincera, eles estavam na defensiva, e um ataque poderia ter terminado tudo. Isso ele entendia. Ag pareceu confusa por um momento. Olhou ao redor e se deixou cair no chão, não sem algum impacto. O rosto pensativo deu lugar a dor e desespero, assim que ela encostou a mão no chão.

– O que foi? – era a voz grossa de Grond.

Ela tirou a mão da terra e ergueu para os dois verem, a tristeza em seus olhos.

– Garoa de flora. Fogo nenhum vai pegar agora. A garoa está umedecendo tudo…

Joe não tinha percebido, por conta do nervoso, mas agora que se concentrava, sentia uma fina camada de água no ar. Quase como uma névoa, mas mais presente, porém menos visivel. Molhava sua camisa e lhe mandava alguns arrepios pelo corpo. Ou isso seria por causa do medo?

Ele evitou se sentar ao lado dela, mas o cansaço começava a bater em seu corpo. Ele precisava pensar em algo, pois sabia que se aquela coisa voltasse, não haveria escapatória. Não havia luta contra algo rápido, silencioso e poderoso como aquilo, e, segundo Ag, a única maneira de defesa deles agora estava fora de cogitação. Fogo. Ele duvidava que algo assim pudesse funcionar, mas era a única saída.

Um choro começou a preencher seus pensamentos, e ele surpreendeu-se a perceber que vinha de Grond. Os olhos do homem estavam cobertos de lágrimas, e sua boca tremia com os soluços. Havia uma incoerencia na cena, que, somada a expressão de incredulidade daqueles olhos vermelhos, tornava tudo aquilo mais difícil. Não tinham como fazer fogo. Não tinham como lutar. Não tinham como seguir em frente.

Podiam voltar.

A ideia balançou na cabeça de Joe por um momento e ele percebeu que era uma boa saida. Poderiam voltar a clareira de onde vieram e seguir o pequeno pedaço de mato aberto pelo machado de Grond para chegar a Estrada Marrom. Talvez, com sorte, conseguiria deixar Ag e Grond para Epolaine, e ele poderia tentar se safar roubando um cavalo. Não era um bom plano, é verdade, mas pelo menos era um caminho a seguir, e ele não estava gostando do desespero que tentava se apossar dos seus pensamentos.

– Peguem só o essencial. Vamos voltar.

– Voltar para onde? – Ag ainda percrustava a mata, a procura daquele terrível perseguidor. O ferimento em seu braço sangrava e escorria pelo membro inteiro, pingando aos montes no chão. A lembrança daquela garra atingindo a pele de Ag trouxe calafrios para Joe.

– Para a estrada. Podemos tentar seguir até a clareira de onde viemos e buscar o espaço que Grond abriu com o machado.

O enorme homem parou de soluçar, balançou positivamente com a cabeça e os ombros deram uma pequena relaxada. Ele se abaixou e começou a limpar o ferimento de Ag com um pano sujo que guardava na camisa. Ela não reclamou, mas Joe sabia que não teria como manter aquilo limpo. Precisava de pontos e alguma gaze, antes que perdesse sangue demais.

– Consegue andar, Ag? Não quero ficar aqui tempo além do que precisamos – a garoa engrossara nos últimos minutos. Ela não respondeu, mas se ergueu e se firmou.

Parecia um bom plano. Parecia o único plano.

CONTINUA

 

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